estigma


O dicionário Aulete classifica a palavra estigma da seguinte forma:

1. Fig. Visão negativa e muito arraigada, numa sociedade, a respeito de determinada prática, comportamento, doença etc.
2. Fig. Qualquer marca ou característica considerada negativa, desonrosa.
3. Marca deixada por ferida, doença etc.
4. Marca, sinal no corpo.
5. Marca infamante feita com ferro em brasa, que antigamente se aplicava nos ombros ou braços dos ladrões, assassinos ou escravos.
6. Marca semelhante à das chagas de Cristo, tal como aparecem no corpo de alguns santos.

Uma tattoo pode ser considerada um estigma pois ainda há quem veja tal prática como negativa devido à sua antiga associação com a marginalidade. Felizmente a sociedade está em constante transformação e o número de pessoas que tem esse preconceito é cada vez menor. Afinal, como um desenho na pele pode determinar a índole de um indivíduo? Seu caráter, seu código moral e ético?

Irremediavelmente cada um de nós vai sendo marcado ao longo da vida. Algumas marcas são intencionais como é o caso da tatuagem, outras não, são incidentais. Tais sinais podem ficar expostos ou ocultos, mas estão todas lá, em nós. No entanto, me parece que os estigmas não são apenas físicos. Eles podem ser também sociais, psicológicos e emocionais.

Um ex-presidiário é uma pessoa estigmatizada socialmente. Ela encontra várias barreira ao longo do seu processo de reinserção social. Pelo fato de ter cometido algum crime, as pessoas ao seu redor, provavelmente, terão dificuldade em depositar sua confiança, mesmo que ele já tenha cumprido sua pena perante a justiça. É uma marca a ser carregada até o fim dos seus dias.

Estigmas criados por nós mesmos ou pelas pessoas ao nosso redor, normalmente nossos pais, também são marcas difíceis de serem ignoradas. Ficam psicologicamente arraigadas. Do trato à estigmatização ocorre um processo em que uma determinada imagem é vendida, cabendo a nós compra-la ou não. A criança que passa sua infância e adolescência sendo tratada como burra, pode acabar criando um bloqueio em si mesma, levando a uma vida adulta limitada por acreditar que não é capaz de ir além das suas possibilidades. Ela foi marcada como tal. Igualmente com os estigmas de egoísta, preguiçoso, encrenqueiro e etc. Assim, percebe-se desse contexto que é, erroneamente, mais importante rotular o indivíduo do que buscar as causas do problema e suas possíveis soluções. Onde há muita cobrança, há pouco espaço para o amor.

Uma pessoa divorciada é quase um ex-presidiário emocional. Além de aprender a conviver com sua própria culpa, ela precisa lidar com elementos recorrentes que surgem para lembrá-lo de sua mácula. Da separação até uma nova união, há uma via-crucis a ser percorrida. O nível de exposição das marcas determina o grau de dificuldade de reinserção emocional a ser enfrentado. Isto é, quanto mais for sabido acerca do que houve, maior será a desconfiança em relação ex-detento matrimonial. Por melhores que sejam as intenções, o estigma estará lá para lembra ao casal que há apenas um é imaculado ali.  A banda The National tem uma canção chamada Cardinal Song que sugere algumas coisas pra esse tipo de situação. Veja no final do post.

Disso tudo, ficam os estigmas. Do momento em que começamos a respirar até aquele em que paramos, seremos marcados. Por nós mesmos e/ou pelos outros. Expostos ou ocultos, intencionalmente ou não. Tudo dependerá do que nós e os outros iremos pensar a respeito. Bem como, da maneira como iremos nos portar diante de tal fato.

Cardinal Song

Nunca a olhe nos olhos
Nunca diga a verdade
Se ela sabe que você é papel
Você sabe que ela terá que queimá-lo

Nunca diga àquela que você deseja que você o faz
Guarde isso para o leito de morte
Quando você sabe que manteve ela desejando você

E faça tudo que ela nunca faria

Durma com esposas de estranhos
As esposas selvagens de homens desconhecidos
Bom para você, você acabou de se tornar
Apenas mais um deles

Nunca diga que sente falta dela
Nunca diga uma palavra

E faça tudo que ela nunca faria

Não deixe ela ver seus olhos vermelhos
Não deixe ela ver seus olhos vermelhos

Deixe-a tratá-lo como um criminoso
Para então você tratá-la como uma madre
Meninas, perdoem minha mente humana
Meninas, perdoem-me mais uma vez

Nunca diga àquela que você ama que você o faz
Guarde isso para o leito de morte

E faça tudo que ela nunca faria

Não deixe ela ver seus olhos vermelhos
Não deixe ela ver seus olhos vermelhos

Jesus Cristo, você tem me confundido
Encurralou-me, gastou-me, abençoou-me e usou-me
Perdoem-me, meninas, eu estou confuso
Rígido e puto e perdido e largado

2 pensamentos sobre “estigma

  1. Sei bem como é… e se um divorciado é quase um ex-presidiário emocional, imagina uma mãe solteira… é praticamente uma bruxa julgada pela “santa inquisição” da sociedade hipócrita em q vivemos.

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